lundi 7 mars 2016

Shu

  Decidi escrever sobre uma doença pouco conhecida, mas que aconteceu comigo, ou melhor com a minha princesa. O nome dessa maldita doença é "síndrome hemolítico e urémico" (shu).
  Tudo começou numa sexta-feira, ligaram-me da escola a informar que a menina estava com febre. Como estava no trabalho, liguei à minha mãe, que se disponibilizou logo para a levar ao pediatra. E assim foi! O médico diagnosticou-lhe anginas e receitou-lhe um antibiótico.
Quando cheguei à noite, a menina vomitou uma ou duas vezes, liguei novamente ao pediatra, que me disse ser normal, apenas uma pequena gastro.
Dei-lhe a medicação para a febre e para as anginas, na esperança que o problema passa-se rapidamente. No entanto, não foi bem assim!!!
No domingo, estávamos nós em casa de familiares, e a menina, embora tenha brincado um pouco, notava-se que estava com menos força. Deitou-se no sofá e dormiu um pouco durante a tarde, algo que nunca acontece. Achamos que deveria ser da febre.
Quando acordou, vomitou novamente, só que desta vez com a particularidade de a parte branca dos olhos ter ficado completamente amarela... Comentei com o pai e decidimos levá-la à urgência, entretanto, passamos primeiro em casa para ir buscar os seus documentos. Aí, ela decidiu ir à casa de banho fazer chi-chi. E como já tinha cinco anos, puxou o autoclismo sozinha, não sei por que razão olhei nesse preciso momento e tive a sensação de ver sangue! Fiquei na dúvida!!!
Falei de tudo isso ao médico na urgência, que inicialmente me disse que poderia ser uma reacção ao antibiótico. Graças a Deus que era um médico atento e preocupado! Olhou para mim e disse-me "o chichi com sangue e a cor dos olhos não combina por isso é melhor fazer umas análises para ficarmos todos mais descansados" .
Esperamos no hospital pelo resultado das análises, que confirmaram que realmente algo não estava bem.
 Fomos transferidos para o hospital pediátrico sem nunca perceber muito bem o que se estava a passar. Sabíamos apenas que podia ser alguma coisa que poderia afectar os rins e que na carreira daquele médico só tinha tido um caso desses há muitos anos...
  Já no hospital pediátrico, foram feitas mais análises e confirmou-se o  "SHU".
Foi estranho porque veio uma médica com muita calma explicar o que se estava a passar, e de seguida, já num quarto duplo, a enfermeira também nos tentou explicar. Para ser sincera não estava a perceber nada e nunca me passou pela cabeça que a menina estivesse em risco de vida...
  No dia seguinte, transferiram-nos para um quarto individual, fiquei contente pois assim estaríamos mais à vontade... Só que no final do dia veio uma enfermeira que me disse que iríamos ser transferidas para um novo quarto, onde as enfermeiras podem estar mais atentas visto nesse serviço existirem menos camas.  Mas para não me preocupar pois a minha filha "Ainda" não corria risco de vida...
Achei aquelas palavras muito estranhas e estava tudo muito confuso na minha cabeça...
Quando chegamos a esse novo quarto, descobri que estávamos nos cuidados intensivos... O mundo parou. Nesse mesmo momento foi-me dito que a menina poderia ter de ser transferida para Bruxelas nessa mesma noite, para fazer  diálise.Foi me dito também que os valores normais das plaquetas para a idade dela  eram de 400.000 e as dela estavam a 20.000.
Foi-me explicado que não se podia dar medicação e que o corpo dela é que tinha de começar a combater a doença. A unica coisa que os médicos íam fazer, era combater os efeitos secundários que iam acontecendo.
Os médicos em Bruxelas decidiram que o estado dela ainda não necessitava a ida para lá naquela noite.
Uma noite horrível, em que foi chorar, chorar e mais chorar. Tentar assimilar toda aquela informação. Tantos medos, e se o corpo só por si não reage, não combate esse maldito vírus (se é que é realmente um vírus, os médicos estavam convencidos que sim, mas também podia ser genético). Essa parte ainda não expliquei, os médicos achavam que isto aconteceu devido a um vírus que ela apanhou, isto porque ela também tinha tido um episódio de diarreia com sangue. Foram feitas análises às fezes e também genéticas, visto também poder ser esse a causa do problema.
  No dia seguinte, nada tinha melhorado, mas também não tinha piorado. Por isso, continuamos no mesmo hospital.
Mais tarde os valores das plaquetas desceram até às 16000 e foi-me informado que era necessário uma transfusão de sangue.Neste momento a menina estava fraca e sem reacção.
 Estava com muito medo da transfusão, mas correu tudo bem. E assim que ela a levou reagiu logo. Notou-se logo que tinha ganho energia. QUE BOM, que alivio.
Nessa tarde, na hora das visitas, começou a sangrar um pouco pelo nariz, a minha mãe ficou muito assustada pois pensou logo numa hemorragia, eu não! A enfermeira disse-me que era normal e eu confiei, até porque, como lhe estancaram o sangue , nunca pensei que fosse hemorragia.
O pior foi o susto que eu tive nessa mesma noite, quando ela acorda a vomitar sangue.... Aí gritei o mais alto possível pois pensei que a ía perder. Tive tanto, mas tanto medo, impossível de descrever...
O enfermeiro chegou e tranquilizou-me pois disse que o sangue já era velho, por isso não era grave. Era o sangue que deveria ter saído pelo nariz. Aí apercebi-me que realmente tinha sido uma hemorragia.
O aconteceu era normal e não era sinal de que estava a piorar.
  O estado dela estava a melhorar, que bom.Desde a transfusão que lhe apetecia brincar e falar.
  Na sexta-feira, dia do seu aniversário recebemos uma excelente notícia. Vamos mudar de quarto!!!! Já não precisamos estar nos cuidados intensivos.... Que bom. Tantas prendinhas que recebeu, tantas visitas... Que felicidade. Estivemos mais uma semana no hospital, mas muito mais tranquilas e com energia.
  O resultado das análises genéticas foram negativo mas também não encontraram o vírus.
Agora é seguida todos os anos para controlar os rins.Mas por enquanto está tudo bem.
  Agradeço muito a Deus por tudo ter corrido bem.
                                        SV